Junho: um mês para comer, rezar e amar 1ut49
Publicado Diário FMem 10/06/2025 2h4f4t
Junho chega e, com ele, é tempo de festas juninas, das bandeirinhas coloridas, das fogueiras acesas, do cheiro de milho cozido, pamonha e canjica. Mas muito além da dança da quadrilha e das delícias típicas, este período carrega uma rica tradição religiosa que atravessa séculos. As homenagens aos santos Antônio, João Batista e Pedro são mais do que celebrações: são manifestações de fé, cultura e resistência popular que formam a identidade de grande parte dos brasileiros. 213s
A origem dessas festas no Brasil remonta à chegada dos portugueses, principalmente pelos jesuítas, que trouxeram consigo tradições religiosas profundamente enraizadas na Europa cristã, é o que afirma o historiador e cientista da religião Márcio Neco.
“A tradição de celebrar os santos juninos vem da Europa, da Antiguidade. Não tem nenhuma relação de origem pagã. Os santos juninos am a ser comemorados a partir do início do cristianismo. Nós temos relatos de cristãos já comemorando o dia de São Pedro nos primeiros séculos da igreja, posteriormente vão ganhando popularidade outros santos, como São João – que é considerado na tradição cristã o precursor de Jesus -, como Santo Antônio e tantos outros”.
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Ao desembarcarem no Brasil, essas tradições encontraram aqui um terreno propício, pela coincidência com os costumes dos povos originários, que já realizavam celebrações ligadas ao ciclo da colheita, especialmente do milho. “Daí nós vamos perceber o milho sendo base da culinária das festas juninas. E aí encontra um terreno fértil também porque os jesuítas usaram as festas e esses santos como uma ferramenta de catequese. Vão surgindo tradições devido a essa liberdade dos povos, que são carentes da presença dos religiosos, vão produzindo seus próprios ritos como a questão dos mastros e de outros elementos que aparecem nessas festas”, detalha.
Transformações 4m3e5l
Mas, afinal, por que Santo Antônio, São João Batista e São Pedro se tornaram tão populares e queridos pelos brasileiros? Márcio explica que os santos também foram se adaptando às realidades culturais dos locais onde eram venerados. “Santo Antônio, por exemplo, já foi aqui considerado Santo das Batalhas, com espada, chapéu e condecorações militares. Com o tempo, foi se transformando na figura que conhecemos hoje [o santo casamenteiro]”, acrescenta sobre o santo, celebrado dia 13.
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Isso para dizer que os santos am por profundas transformações. Celebrado no dia 24, “São João Batista, que é o único santo que celebramos o dia do seu nascimento – porque os outros são celebrados no dia de sua morte – aparece na cultura popular como um menino segurando um cordeirinho, lembrando que, segundo a tradição cristã, ele é primo de Jesus. Essas ressignificações que vão tendo no Brasil”.
Sobre São Pedro, o historiador revela que sua popularidade tem relação direta com a atividade pesqueira no período colonial brasileiro. Celebrado no dia 29, “pouco mencionado, mas na verdade, é São Pedro e São Paulo celebrados juntos. São Pedro é o santo pescador. A atividade econômica, sobretudo no Brasil colonial, vai fazer com que haja essa identificação desses pescadores. Até hoje ele é venerado em muitos locais onde a pesca é a base da economia. Além disso, São Pedro é aquele que, segundo a tradição, tem as chaves [do céu], representando o poder daquele que comanda, que governa”.